Parques, atrações turísticas e o “ciclo da experiência” na Serra Gaúcha
Carolina Negri e Murilo Pascoal
É desnecessário destacar que a indústria do turismo foi uma das mais impactadas pela
pandemia da Covid-19. Dados do World Travel & Tourism Council (WTTC) apontam que o
setor de Viagens e Turismo registrou US$ 4,5 trilhões de perdas em nível global em 2020, extinguindo mais de 60 milhões de empregos.
Durante ação do SINDEPAT, associação nacional que representa parques e atrações
turísticas, realizada em Gramado e Canela (RS) na primeira semana de agosto, pudemos presenciar e reconfirmar um fato que desde o início da pandemia verbalizamos em
audiências públicas no Congresso Nacional, em reuniões com lideranças do Poder Executivo
e em inúmeras participações em lives: a importância dos parques e atrativos para o turismo brasileiro.
Apesar do cenário desencadeado pela pandemia, a região da Serra Gaúcha vive um boom no desenvolvimento de parques e atrações, tornando-se um importante cluster nacional do entretenimento. Empreendimentos recém-inaugurados e diversos projetos em andamento
não deixam dúvidas sobre o crescimento. De acordo com a presidente da Associação dos Parques e Atrações da Serra Gaúcha (APASG), Manoela Costa, a retomada do fluxo de
turistas, entre aberturas e fechamentos constantes na região – e em todo o mundo, durante
2020 e o início deste ano – só passou a ser observado de modo consistente assim que os
atrativos foram liberados a operar.
Com capacidade reduzida e dezenas de protocolos implementados em processos
operacionais, os parques e atrações foram reabrindo dentro do “novo normal”, com a
introdução de novos check-lists. Os turistas só voltaram a frequentar a Serra Gaúcha
quando passaram a ter acesso às dezenas de atrações que a região oferece. Hotelaria, restaurantes e comércio variado complementam os serviços necessários para a experiência
de qualquer viajante. O último mês de julho foi, para vários empresários, o melhor da
história em décadas.
O relato que se ouve de vários empresários da região é que a alta sazonalidade, um dos
grandes inimigos de qualquer destino que vive do turismo, vinha sendo controlada em razão
da inúmera quantidade de opções de entretenimento, de parques a pizzarias temáticas, e de eventos. De fato, a gama de produtos vem sendo diversificada. Para citar alguns: parque
indoor de neve e aquático termal (recentemente inaugurado); museus de cera, de carros, de motos, de caminhões e sobre a história do vapor; parques naturais com estruturas incríveis de atendimento ao público, como bondinhos, passarelas de vidro, tirolesas, trenós de
montanha; simuladores de última geração; casas temáticas; passeios por vinícolas de bike,
de carro etc. Dezenas de vivências possíveis, para casais, amigos ou famílias.
O destino que já viveu ciclos importantes, como destino de malharia e de chocolate, agora experimenta o ciclo da experiência. Esse crescimento contribui diretamente para o desenvolvimento regional. Exemplo também nos foi relembrado, quando, na véspera de
inaugurar seu cinema 4D, o Alpen Park, em Canela, teve atraso no visto de um profissional
que viria da China para ajustes técnicos. Com apoio do SINDEPAT, que intercedeu junto ao Ministério do Turismo, a situação foi resolvida e o técnico chegou a tempo para a
inauguração. Algum tempo depois, o Ministro do Turismo à época foi ao parque conhecer a atração e, após a visita, apoiou o município na construção da estrada entre a cidade e o
parque.
Parques são ativos complementares entre si. Os novos atrativos muitas vezes proporcionam
uma revisitação dos mais antigos. Induzem o aumento de permanência no destino. Mais
diárias no hotel, mais um jantar no restaurante. E assim a roda do turismo tem mais um giro. Parques estimulam a melhoria da infraestrutura de acesso e urbana; geram empregos; desenvolvem uma rede de fornecedores de produtos e serviços locais (criando os empregos indiretos); estimulam micro e pequenos empreendedores; atuam em diversas ações sociais
nas comunidades em que estão inseridos – participando de movimento de doação de
alimentos na pandemia, por exemplo; além da enorme responsabilidade de entregarem a experiência perfeita, parte do sonho de muitos de seus visitantes.
Com o exemplo da Serra Gaúcha, podemos nos perguntar: por que olhar sempre para cases internacionais? Temos muita coisa boa dentro de casa. Temos sim um cluster de
entretenimento, empreendedores que acreditam no turismo brasileiro, que investem em
estruturas, processos e atendimento de altíssima qualidade, e que funcionam incrivelmente
bem, movidos pela simpatia, zelo e atenção do bem receber do gaúcho.
Murilo Pascoal é presidente do Conselho de Administração de SINDEPAT (Sistema
Integrado de Parques e Atrações Turísticas)
Carolina Negri é presidente-executiva do SINDEPAT. Ambos estiveram em Gramado e
Canela para a realização do SINDEPAT RoadShow